O impacto da pandemia de COVID-19 na sexualidade feminina

Segundo a pesquisa, fatores como depressão e ansiedade foram os principais elementos causadores de disfunções sexuais entre a população feminina

O impacto da pandemia de COVID-19 na sexualidade feminina
Reprodução

A pandemia de COVID-19 afetou a comunidade global de inúmeras maneiras, algumas das quais são mais óbvias do que outras.

Fechamento de negócios, educação remota e distanciamento social têm sido regularmente notícia e amplamente discutidos em público e privado. Depois, há alguns efeitos menos divulgados da pandemia – coisas como desemprego, problemas de saúde mental e isolamento social.

Um artigo recente de estudos sexuais da Universidade de Medicina indiana, Bhambhvani  analisou as consequências da pandemia de COVID-19 – no que tange à função e a frequência sexual de mulheres que contraíram o vírus. Este estudo utilizou o Female Sexual Function Index (FSFI), um questionário composto por 19 questões focadas em 6 domínios: desejo, excitação, lubrificação, orgasmo, satisfação e dor. Ao todo, foram entrevistadas 91 mulheres que realizaram 2 pesquisas: 1 pré-pandemia (entre 20 de outubro de 2019 e 1 de março de 2020) e uma pesquisa intra-pandêmica (entre 1 de agosto e 10 de outubro de 2020). 

Juntamente com o FSFI, as pesquisas intra-pandêmicas incluíram a adição de perguntas relacionadas à frequência sexual, hábitos de uso de máscaras, perda de emprego, e se as participantes conheciam alguém que testou positivo para COVID-19, mudanças recentes no relacionamento e sintomas recentes de ansiedade/depressão.

Os resultados mostraram que os desejos e a libido feminina diminuíram significativamente durante a pandemia de COVID-19. Vários domínios, incluindo excitação, lubrificação e satisfação, foram extremamente impactados. Ainda de acordo com a pesquisa, não houve impacto na frequência sexual de 58 mulheres, ou seja, a prática era realizada continuamente  durante todo o período da pesquisa, ainda que os níveis de excitação e desejo não fossem os mesmos.

Confirmando as notícias sobre a implacabilidade dos efeitos da Pandemia sobre o gênero feminino, as análises também mostraram que quase metade de todas as participantes conheciam alguém que havia testado positivo para COVID-19 (45/91, 49,5%); uma porcentagem semelhante sofreu perda de emprego ou redução de horas de trabalho (46/91, 50,5%). Devido a esses e outros fatores, não foi surpresa que 42 mulheres (46,5%) tivessem rastreado positivo para ansiedade e 22 (24,2%) para depressão. Essas mulheres foram especificamente consideradas com um maior risco de disfunção sexual feminina (RFSD) durante a pandemia de COVID-19.  

Pesquisas anteriores demonstraram consistentemente uma associação entre disfunção sexual e problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e estresse. Estimativas iniciais e estudos observacionais sugerem que esses problemas de saúde mental foram exacerbados durante a pandemia, não surpreendendo que as funções sexuais também sejam impactadas entre pacientes sexualmente ativos. 

Acredita-se que o impacto da COVID-19 na função sexual seja regionalmente específico com base na variabilidade da doença e nas intervenções políticas que foram introduzidas em cada país. Alguns estudos mostraram tanto um aumento na atividade sexual quanto na frequência de relações sexuais em regiões específicas (por exemplo, Itália, Turquia), enquanto outros não mostraram impacto no estilo de vida sexual. 

“A relação direta entre disfunção sexual feminina e depressão, ansiedade e estresse foi estudada extensivamente”, escreveram os autores do estudo. “Muitas terapias farmacológicas para depressão e ansiedade têm a disfunção sexual feminina como um efeito adverso potencial, mas depressão e ansiedade são elas mesmas, mesmo na ausência de tratamento, fatores de risco para a disfunção sexual feminina. Portanto, vale ressaltar e estimular a atividade sexual, que pode ter um efeito protetor no desenvolvimento de transtornos de ansiedade e alterações de humor relacionados à quarentena. Portanto, a otimização da saúde sexual e a otimização da saúde mental das pacientes são objetivos recíprocos e sinérgicos”.

Com base nos resultados deste estudo de Bhambhvanil, sugere-se que os ginecologistas e outros profissionais que encontram pacientes com disfunção sexual sejam especialmente vigilantes na triagem de problemas de saúde mental relacionados à pandemia, como depressão e ansiedade.